sexta-feira, 22 de maio de 2009

Vanderlei Cordeiro de Lima

29/08/2004 – Jogos Olímpicos de Atenas
Último dia prova – Maratona Masculina

Era fim de tarde em Atenas e a delegação brasileira voltava dos Jogos Olímpicos de Atenas com mais uma campanha medíocre, a maior da nossa história olímpica (4 Ouros, 3 pratas e 2 bronzes). Em instantes começaria a Maratona Olímpica e o Brasil, sem chance alguma de medalha, tentava encontrar alegria: éramos os reis do Voleibol! Para apagar os fracassos, Bernardinho e Giba eram entrevistados a todo momento, dando uma falsa impressão de que tudo era bom.

Algumas emissoras nem passaram a maratona, enquanto outras usaram-na para uma espécie de retrospectiva olímpica, um balanço das poucas conquistas. Apenas duas pessoas acreditavam que estava para acontecer história em poucos momentos: um paranaense de Cruzeiro D’Oeste chamado Vanderlei Cordeiro de Lima e seu treinador Ricardo D’Angelo.

Ricardo não pode estar junto com Vanderlei na hora da largada, mas deixou uma carta de apoio ao atleta: "Infelizmente, não estarei na largada. Mas tenha certeza de que meu espírito e coração estarão. Não só na largada, como durante todo o percurso. Estou muito confiante em um excelente resultado, como já conversamos...Este é um sonho que estamos acalentando há muito tempo. Saiba que, seja qual for o resultado, você sempre terá meu apoio e confiança"

Corrida que começou no final da tarde ateniense em um percurso belíssimo, porém duro, com muitas subidas e descidas. Vanderlei Cordeiro começou a surpreender antes dos 10 km, em que saltou do 35º lugar para a primeira posição. Depois, rompeu os 15 km na 16ª colocação, permanecendo sempre no pelotão da frente. A partir daí, assumiu a liderança lentamente, ganhando cada centímetro. Ninguém acreditava que aquela fuga do pelotão resultaria em alguma coisa, mesmo assim seguiu firme, sozinho, com os outros todos vendo aquele maluco, sem entender direito o que estava acontecendo. Até o km 36 seguiu soberano, quando aconteceu o que ninguém esperava.


Câmeras filmavam Vanderlei com um olhar compenetrado, nada passava pela sua mente que não fosse chegar ao final dos 42.195m como vencedor. Vemos então a cara do corredor se retorcer, um olhar de pânico toma conta de seus olhos, a TV corta o sinal. Quando volta, cadê o Vanderlei? Vemos um tumultuo do lado esquerdo da imagem e em seguida vemos nosso corredor sair do meio da platéia com uma cara de tristeza cortante, uma infelicidade profunda. Naquele momento, Vanderlei havia sido atacado por um padre irlandês, que invadiu a raia olímpica, agarrou e atirou-o contra a platéia. Um gigante grego ajudou o corredor a levantar.

"Senti uma raiva enorme... Ele tinha 25 segundos de vantagem, o que da uns 250 metros. Mesmo se os outros tirassem uns três segundos por quilômetro, não iam alcançar. Ele perdeu pelo menos uns 20 segundos ali, perdeu a concentração, teve de recuperar o ritmo", afirmou o técnico Ricardo D'Angelo.

Depois de 1h50m de prova o guerreiro havia sido atingido. Levantou, procurou o ritmo, a concentração e seguiu, lutando heróicamente até o final. Com 2 horas de luta foi duplamente ultrapassado. Quando entrou no Estádio Panathinaikon foi recebido com festa e alegria: estava chegando o campeão olímpico. Todas as pessoas ali acompanharam sua luta pelo telão de dentro do estádio. Quando estava para cruzar a linha de chegada seu rosto se encheu de vida, fez sua coreografia típica, o aviãozinho, e chegou mandando beijos para o mundo: Você pode ser derrubado, mas sempre deve levantar!

Ninguém notou os dois que haviam chegado antes dele. Nunca vi uma pessoa mais feliz! Os repórteres, ávidos por alguns palavrões e desabafos acalorados, típico dos jogadores de futebol, ouviram da humildade em pessoa, as mais lindas palavras já ditas: "Queria ganhar uma medalha olímpica e consegui o bronze. Abdiquei de muita coisa na minha vida para isso. Não foi por acaso e nem foi sozinho. Agora sou um cara realizado"

Os palavrões e desabafos ficaram por conta do oportunista presidente do COB Carlos Artur Nuzman, mas esse, a história fará questão de apagar.

Vanderlei Cordeiro de Lima ficou com a medalha de bronze e recebeu a maior honra do esporte mundial, o Prêmio Barão de Coubertin, por ter mantido acima de tudo o espírito olímpico.

Na premiação olímpica no Estádio de Atenas, o sorriso de Vanderlei iluminou o estádio. Foi mais aplaudido que todos! Nunca revindicou a medalha de ouro. Sabia que mais importante que a cor de sua medalha é o sentimento de que fez o melhor, de seu máximo!

Ele é o meu herói olímpico: Vanderlei Cordeiro de Lima!

http://www.vanderleidelima.com.br/
http://esporte.uol.com.br/olimpiadas/ultimas/2004/08/31/ult2247u457.jhtm
http://esporte.uol.com.br/olimpiadas/ultimas/2004/08/29/ult2247u452.jhtm

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